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Discurso festivo de Herta Müller: “A liberdade não é estática”

Herta Müller, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, clama por liberdade no 70º aniversário da Freie Universität Berlin em 4 de dezembro de 2018.

Notícias de 01.01.2019

Traduzido por Nora Jacobs e Guilherme Leite Gonçalves

          Já vivo em liberdade pelo mesmo período que vivi em ditadura. Mesmo assim ainda meço a liberdade atual a partir do que sei do tempo da ditadura. Não faço o contrário: não meço a ditadura baseado no que vivo em liberdade.

          Até hoje não consigo ver a liberdade como auto-evidente. Ela não é estática. Pode sempre se ausentar. […]

          Naquela época, não sabia disso; perguntava por liberdade pessoal. Com a distância de hoje, penso que na repressão existe uma fixação destrutiva pelo contrário, pela liberdade que não pode ser vivida. Ela existe como ausência, pois sabe que é deformada. É tão perturbada que onde começa imediatamente acaba. O fim devora seu início desde seu primeiro momento. Como, porém, sempre perdura, ainda que enquanto seu contrário, é mais do que mera projeção em nossas cabeças. A liberdade não é uma imagem muda de nossas cabeças. É, ao contrário, um sentimento terrivelmente preciso. […]

          Hoje tenho de admitir para mim mesma: o que mais aprendi sobre liberdade devo aos mecanismos de repressão. Observá-los – não resta outra coisa a fazer na repressão – equivale a decifrar a escrita invertida da liberdade. O mais evidente que aprendi posso dizer em termos claros e simples:

          A liberdade sempre é concreta. Se não existe, faz falta nas coisas mais singelas. Não há como falar de liberdade em termos gerais. Se tentar, não vou a lugar nenhum. Não emprego a palavra abstrata liberdade como ideia, mas como objeto. Um objeto inteiramente concreto. A liberdade tem seu lugar concreto, tanto no que ela existe, quanto no que falta. Ela tem seu conteúdo, seu peso. Na liberdade há sempre uma situação concreta. Ela se realiza ou é impedida. Permitir ou proibir: estas duas categorias estão sempre presentes. Na ditadura, quase tudo o que queria fazer era proibido. Já o que era permitido, eu mesma me proibia, pois não queria me transformar naquelas pessoas que me permitiam. A liberdade é um objeto. Na Romênia daquela época, estava, todavia, tão longe de minha vida que não era possível tocá-la quanto mais ela me tocava.

          Por essa razão, encarei todos os conflitos inevitáveis nas situações que importavam. Quando importava – sempre importava. […]

Leia o discurso da Herta Müller em alemão na íntegra aqui.

 

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